Bismarck Passos de Carvalho¹, Willian Gonçalves do Nascimento²
1 - Zootecnista, (bpcarvalho@zootecnista.com.br)2- Zootcnista, Professor Adjunto da UFRPE/UAG, (willian@uag.ufrpe.br)
Introdução
A bubalinocultura teve início em nosso país no final do século XIX, mais pelo seu exotismo que por suas qualidades produtivas. Entretanto, por ser um animal rústico que apresenta grande adaptabilidade em ambientes adversos e possuir uma alta fertilidade e vida produtiva longa, esses animais logo se adaptaram as nossas condições edafoclimáticas, tanto que na década de 80 houve um crescimento e disseminação da espécie para diversas regiões, com o objetivo de ocupar os chamados “vazios pecuários” [4].
De acordo com Vaz et al. [10], a bubalinocultura deve ser fomentada, por já ter conquistado um espaço na pecuária de corte, adaptadando-se a solos de baixa fertilidade e a terrenos alagadiços, onde algumas raças bovinas não apresentam a mesma produtividade.
Segundo o IBGE [6] a população bubalina em nosso país conta com 1,2 milhões de cabeças divergindo da Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo (ABCB [1]) que estima através de levantamentos indiretos o rebanho brasileiro em aproximadamente 3,5 milhões de cabeças. A divergência entre os dados do IBGE e da ABCB pode ser explicado pelo fato de que muitas vezes o registro dos bubalinos se confunde com os de bovinos, fazendo com que a população real de bubalinos fique subestimada [4].
A exploração desses animais destina-se fundamentalmente à produção de carne, porém, a partir dos anos 80/90, verificou-se um interesse crescente em sua exploração leiteira com duplo propósito (carne e leite) [4]. E ainda segundo o mesmo autor, pode-se aproveitar seu couro, sua força como animais de transporte ou tração e atualmente são muito utilizados no turismo rural.
O objetivo dessa revisão foi mostrar a evolução da bubalinocultura no país desde sua introdução até os dias atuais, tendo em vista que houve um significativo avanço desta atividade no Brasil e que muito em breve sua importância não será apenas restrita para as pequenas propriedades rurais, mas também a empresas produtoras e processadoras de alimentos, no que certamente deverá acarretar em uma organização da cadeia produtiva da bubalinocultura em nosso país.
Material e métodos
Foram consultados periódicos pertencentes ao acervo da Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG/UFRPE), da Scientific Electronic Library Online (Scielo) e de sites especializados.
Resultados e Discussão
A) Bubalinocultura de Corte
Os consumidores dos dias atuais são bastante exigentes no que diz respeito à saúde e a qualidade de vida baseadas em uma dieta saudável. Neste sentido, a carne de búfalo é a mais adequada para uma sociedade cada vez mais exigente, já que a mesma em comparação com a carne bovina apresenta menos colesterol, menos calorias, é rica em minerais e vitaminas.
Assim um dos maiores objetivos das pesquisas relacionadas à produção de búfalos é a busca de novas tecnologias para aumentar os rendimentos da porção comercializável e sua qualidade Isto pode ser conseguido se, na cadeia da carne bubalina, for feito um completo entrosamento entre os geneticistas, melhoristas, produtores, frigoríficos e especialistas em qualidade de carcaça e da carne, além do marketing [8].
Portanto, é necessário que sejam implantadas grandes mudanças da imagem da carne bubalina, como a criação de campanhas publicitárias que associem este produto a uma carne natural, saudável e pouco calórica [8].
Segundo Lourenço Junior et al.[7], foi criada uma marca para a carne de bubalinos jovens, identificada pelo nome de “Baby Búfalo”, que é obtido de animais abatidos precocemente, com boa aceitação no mercado.
O Rio Grande do Sul foi o Estado pioneiro no Brasil a colocar a carne de búfalo embalada a vácuo em redes de supermercado [3].
A produção de carne de búfalo é uma maneira mais produtiva e rentável, contudo, isso só irá acontecer, em escala mais significativa, se houver um esforço de marketing completo que atinja toda a cadeia produtiva, estimulando o consumo desse tipo de carne [8].
Fonte: http://www.iapar.br/modules/noticias/article.php?storyid=626 Búfalos com aptidão para corte |
B) Bubalinocultura de Leite
A expansão da exploração de bubalinos com aptidão leiteira no Brasil teve início a partir da década de 90, obtendo um crescimento estimado de 15% em 2009 [1].
O consumo do leite bubalino vem crescendo através da oferta de ampla gama de alimentos, como a mussarela, a ricota, o queijo de coalho, a manteiga e outros derivados, alem do que é um produto superior ao leite bovino em se tratando de nutrientes.
Segundo Teixeira et al. [9], os derivados do leite de búfala apresentam uma ótima qualidade sensorial e nutricional, devido ao seu maior teor de cálcio, vitamina A, e paladar suave.
De acordo com a ABCB [1], foram produzidos 31 milhões de litros de leite de búfala e 5,2 milhões de quilos de mussarela, no ano de 2008.
Segundo Albuquerque et al. [2], já haviam relatado uma gradativa intensificação no manejo das búfalas em certas bacias leiteiras, com a adoção da prática de duas ordenhas diárias, suplementação de volumosos de melhor qualidade nos períodos de escassez das pastagens e oferta de concentrados com base no nível produtivo dos rebanhos, que permitiram uma elevação da produtividade média de 1.460 kg/lactação em sistemas de baixa intensificação para uma média de 2.431 kg em sistemas mais intensificados e de 2.955 kg em propriedades com melhor material genético.
Búfalas podem aumentar sua produção em até 50% se manejadas corretamente [5].
Segundo Bernardes [4], as regiões onde existem laticínios especializados na captação do leite de búfalas, é cada vez maior o número de produtores, que passam a se dedicar à exploração leiteira bubalina, com a qual tem obtido produção individual superiores às que obtinham com bovinos, mesmo com rebanhos ainda pouco selecionados.
Fonte: http://www.elchao.com/leche.htm Búfala sendo ordenhada |
C) Futuro da bubalinocultura no Brasil
O maior desafio da bubalinocultura em nosso país é a busca por uma melhor organização da cadeia produtiva de seus derivados visto que zootecnicamente esses animais demonstram ser capazes de entrar com força no mercado, pois, não restam dúvidas sobre sua excelente qualidade nutricionais o que coloca esta atividade pecuária como opção econômica aos mais diversos ambientes, mostrando respostas satisfatórias sem causarem danos significativos ao ambiente.
De acordo com Bernardes [4], o Brasil se encontra em uma posição privilegiada com relação à bubalinocultura posto que detém o maior rebanho da espécie no Ocidente, dispondo-se de exemplares com produtividade leiteira comparável aos melhores espécimes e, no segmento corte, já dispõe de animais com performances bem mais expressivas que as existentes nos países de origem onde a atividade foi pouco explorada.
Considerações Finais
A grande barreira para os pesquisadores que estudam a bubalinocultura é a escassez de material didático (periódicos, livros e revistas) que com o aumento desta atividade pecuária em nosso país há um consequente aumento da necessidade por mais informações nesta área, o que contribuiria de forma sinérgica com o crescimento da mesma que possui um vasto potencial ainda por ser explorado. Diante disso, cabe a nós profissionais das Ciências Agrárias a incumbência de melhorar esta situação com o aumento de pesquisas que visem o avanço da bubalinocultura no Brasil.
Referências
[1] ABCB. Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos. Disponível
[2] ALBUQUERQUE, S.S.A; BERNARDES, O; ROSSATO, C. Avaliação da produção leiteira de búfalas na região sudoeste de São Paulo. Bol Búfalo ABCB, n.1, p.38, 2004.
[3] ASCRIBU. Associação Sulina de Criadores de Búfalos. Disponível < http://www.ascribu.com.br/Pagina/21/A-Carne> Acessado em 02 Set 2011.
[4] BERNARDES, O. Bubalinocultura no Brasil: situação e importância econômica. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.31, n.3, p.293-298, jul/set, 2007.
[5] COUTO,A.G. Manejo de búfalas leiteiras. Circular Técnica, n.2, 2006. Disponível
[6] IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em
[7] LOURENÇO JUNIOR, J.B.; LOURENÇO, V.V.; COSTA, N.A.; MOURA CARVALHO, L.O.D.; LOURENÇO, L.F.H.; SOUSA, C.L.; SANTOS, N.F.A. Evaluation of carcass income and physical-chemical characteristics of “baby buffalo” meat. In: Simpósio de Búfalos das Américas, 2002.
[8] OLIVEIRA, A. L. Búfalos: produção, qualidade de carcaça e de carne. Alguns aspectos quantitativos, qualitativos e nutricionais para promoção do melhoramento genético. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.29, n.2, p.122-134, abril/jun, 2005.
[9] TEIXIERA, L.V.; BASTIANETTO, E.; OLIVEIRA, D.A.A. Leite de búfala na indústria de produtos lácteos. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.29, n.2, p.96-100, abril/jun, 2005.
[10] VAZ, F.N.; RESTLE, J.; BRONDANI, I.L. Estudo da carcaça e da carne de bubalinos mediterrâneos terminados em confinamento com diferentes fontes de volumoso. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32,n.2, p.393-404, 2003.
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